A Língua Andrômedra

 

 

1.     A Representação das Palavras

            A linguagem Andrômedra não utiliza o alfabeto Latino. De fato, não utiliza nenhum alfabeto. Cada palavra é representada por um símbolo diferente. Cada símbolo é composto por até 50 bolinhas envolvidas por uma fina linha que em geral é preta.  As bolinhas são coloridas e há 200 cores disponíveis. Isto significa que podemos ter na língua uma grande quantidade de palavras diferentes (quantas ?). Se por acaso este número não for suficiente, aumentaremos o número de cores disponíveis.

            Cada símbolo (palavra) pode ser desenhado em qualquer forma. A única restrição é que todas as bolinhas estejam dentro da linha fechada que as delimita. Objetos adjacentes não se misturam, pois estão separados pela linha.

 

2.     Estrutura da Oração: Verbo e Subjeito

            Para facilitar a descrição da língua, utilizaremos as palavras da língua Portuguesa nos exemplos.

            Frases em Andrômedra possuem sujeito, verbo, predicado, etc, como em Português. O verbo assume diferentes formas para

- passado, presente, futuro, passado do passado (eu comi a maça antes de jantar ontém à noite), passado distante (eu nasci há 60 anos), passado recente (eu comi a maçã ontém), passado condicional (isto não teria acontecido se eu tivesse falado com ela), futuro distante  (eu estarei aposentado em 30 anos), futuro imediato, futuro condicional (eu almoçarei com você amanhã se tiver tempo), futuro contínuo (eu estarei trabalhando durante toda a tarde amanã), tempo indefinido (eu  comerIN a maçã, onde IN significa que o tempo não está definido), todos os tempos (eu comoTO maçã, significando que isto aconteceu, acontece e acontecerá), presente condicional (eu estaria comendo a maçã se eu a tivesse comprado), presente contínuo (eu estou comendo a maçã desde o início do filme), futuro contínuo (eu farei um curso de dois meses o ano que vem), futuro incerto (eu espero estar comendo a maçã amanhã, mas não tenho certeza), imperativo, subjuntivo, etc.

- frases afirmativas ou negativas: “eu não comiPANA a maçã” e “eu não comiPA a maçã”. O primeiro é um verbo no passado na negativa e o segundo apenas no passado;

- voz ativa/passiva;

- cada um dos diferentes tipos de sujeito: eu, tu, ele, nós, vós, eles, substantivos;

- masculino/feminino. O verbo se modifica se o sujeito da oração é homem ou mulher. Assim, um homem diz “eu comereiMA a maçã” e a mulher “eu comereiFE a maçã”. Naturalmente, “comereiMA” e “comereiFE” serão representados por símbolos completamente diferentes entre si.

            Estamos cientes de que o espectro dos comportamentos humanos é bem mais rico do que a escolha binária homem/mulher (masculino/feminino). Contudo, para não tornar a língua complexa (sic), nos restringiremos a estas duas possibilidades.

            Se não sabemos qual o sexo por falta de informação suficiente, podemos utilizar uma forma indefinida do verbo. Mas isto só é possível em casos como “Era noite, estava escuro e alguém me viuIN”.

- elementos da natureza. O verbo possui diferentes formas para cada um dos reinos da natureza, que creio sejam cinco. Assim, a palavra “morreu” em “ele morreu” seria representado por diferentes símbolos de acordo com a categoria de “ele”. Se for um vegetal, um símbolo, um fungo, outro símbolo. Há ainda um símbolo para sujeito indefinido que não é humano e não sabemos a que classe pertence;

- diferentes números de elementos no sujeito. Assim, se dois homens morreram, dizemos “eles2 morreram2”. Se três, “eles3 morreram2”. Observe que “morreram2” e “morreram3” seriam representados por símbolos diferentes. Há símbolos diferentes para todos os números até 100. Depois disto, um único símbolo representa todas as formas de “morreram”. Há uma forma para quando não sabemos quantos elementos são: morrerNIN.

            Cada verbo possui um único e exclusivo significado. Por exemplo, o verbo “ler” em Português é representado em Andrômedra por diversos verbos, cada um deles com um significado preciso: “ler um livro”, “ler a mão”, “ler dinamicamente” (de leitura dinâmica), “ler um texto no vídeo de um computador” (que é bem diferente de ler um livro), etc.

            Em Andrômedra um verbo pode ser composto por até dez símbolos diferentes, que podem estar espalhados em qualquer ordem na frase. Observe que em Inglês um verbo pode ser composto por duas palavras: “I will look after the baby”, “I will look at the girl”, “I look like my father”.

 

            Observe que todos os itens acima (exceto masculino/feminino e elementos da natureza) sempre se aplicam simultaneamente a um verto. Assim, “morrerAFATFPVE5” significa o verbo “morrer” na AFirmativa, na voz ATiva, no Futuro do Passado (FP)  e aplicado a cinco (5) VEgetais. Não existem símbolos para verbos incompletos como “morrerFP” – nós utilizamos esta forma nos exemplos apenas com finalidade didática.

            Para cada verbo há 19x2x7x9x102 = 244188 formas diferentes, representadas por um igual número de símbolos. 19 = número de tempos (passado, futuro, ...). 2 = voz ativa/passiva. 7 = número de pronomes no sujeito (eu, tu, ...) ou substantivo. 9  = masculino/feminino/indefinido/reinos da natureza. 102 = número de elementos do sujeito ou indefinido. Na verdade, algumas destas combinação não existem e então o número de formas de cada verbo é efetivamente menor do que isto.

 

            O sujeito da oração possue formas diferentes conforme cada um dos tempos do verbo. Isto é bem razoável. Quando dizemos “eu comi uma maçã ontém”, falamos de um “eu” que existiu no passado. Como nos modificamos o tempo todo, não é justo que utilizemos a mesma palavra “eu” ao falar “eu estou comendo a maçã”. Sou outra pessoa. Então utilizamos símbolos diferentes para ambas as palavras.

            “Nós” e “eles/elas” assumem formas distintas conforme o número de elementos e a categoria a que pertencem os elementos a que se referem o pronome. Assim, a palavra “ElasVE4 morreramVE4” significa que quatro VEgetais morreram. Se há elementos de diversos reinos agrupados no mesmo pronome ou verbo, utiliza-se a forma do elemento mais evoluído. Feminino tem precedência sobre masculino (se seres humanos estão envolvidos).

 

3.     Substantivos

                        Há uma forma diferente para cada substantivo:

- se ele se refere a uma possibilidade de existência: “eu comerei uma maçãPO daqui a dois anos”. A maçã ainda nem existe e seria um absurdo utilizar a palavra “maçã” nesta frase, já que esta palavra significa algo existente;

- conforme se fale dele com respeito, reverência, desprezo, amor, etc. Assim podemos colocar na frase um pouco da expressão facial que utilizamos quando dizemos uma frase pessoalmente. Se dizemos “O presidenteRES governa do planalto  estamos nos referindo com RESpeito ao presidente. Depois de alguns anos, esta frase se transforma em “O presidenteDES governa do planalto”, com DESprezo.

 

- se ele é uma representação visual do substantivo. Assim, “veja a maçãVI que desenhei” utiliza um símbolo diferente para “maçã” do que “eu comi a maçã”. Afinal, não é uma maçã de verdade, apenas uma representação;

- se ele é uma representação digital/analógica do substantivo. Diríamos “A maçãDI está no arquivo” para dizer que o desenho da maçã está armazenada em forma de bits no arquivo;

- quando ele é usado como sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc. Teríamos “A maçãSU estava ótima” e “eu comi a maçãOD”;

- de acordo com sua a existência parcial ou incompleta. Não é correto chamar um pedaço de maçã de “maçã”. Então, diríamos “Eu comi um pedaço da maçãPA”;

- de acordo com o número de elementos: “eu comi duas maçã2”. Há símbolos para todos os números de 1 a 100, um para números maiores do que 100 e um símbolo para um número indefinido de elementos.

 

Obviamente, devemos combinar todas as formas de um substantivo:  “maçãPOVISUPAIN” significa um pedaço de maçã (PA) que desenharei (VI) amanhã  (PO)  e que é sujeito de uma frase (SU). As minhas expectativas com relação ao desenho é INdefinido.

            Não há símbolos para palavras incompletas como “maçãVI” ou “maçãPO”. Existem símbolos apenas para palavras completas como “maçãPOVISUPAIN”.

 

4.     Artigos

 

            Os artigos que acompanham o substantivo podem variar de acordo:

- com o gênero (masculino/feminino), como os verbos;

- com o número de elementos do substantivo, como os verbos;

- com o reino da natureza a que pertence o substantivo, como os verbos;

- com a função do substantivo. Dizemos “ASU maçã estava ótima” porque “SU”significa que “A”estava sendo utilizada como sujeito;

- com a definição/indefinição do substantivo. Há 20 classes de definição. Por exemplo, “A1” é o mesmo que “A”. Se dizemos “A1 maçã’, sabemos exatamente de qual maçã estamos falando. É equivalente a “A maçã” em Português. Se dizemos “A20 maçã”, não sabemos exatamente qual maçã. É equivante a “Uma maçã” em Português. “A10 maçã” é uma forma intermediária entre “A1 maçã” e “A20 maçã”. Podemos expressar nosso pensamento com uma precisão de 5%.

 

5.     Adjetivos

 

            Os adjetivos variam

- com o gênero (masculino/feminino/indefinido/cada um dos reinos da natureza);

- número de elementos (1-100, número maior/número indefinido);

- de acordo com a intensidade de sua aplicação. Dizemos “Ela é bonita100” de uma moça surpreendentemente bonita, com nota máxima. Dizemos “Ela é bonita1” para uma moça bonita, mas no limite de não ser;

- de acordo com o substantivo a que se aplicam. Há uma forma do adjetivo para cada forma do substantivo. Parcialmente coberto pelos dois primeiros itens (gênero e número de elementos).

 

6.     Algumas Idiossincrasias da Língua

 

            Há palavras em Andrômedra que não desempenham nenhum dos papéis comuns em outras linguagens como sujeito, verbo, objeto, etc. Elas têm o objetivo de transmitir o estado de ESpírito de quem fala e o que se espera de quem recebe a comunicação (ouve ou lê o que está escrito). Assim, “Eu irritadoES-EM achei a sua brincadeira muito engraçada peça-desculpasES-RE” quer dizer que o “emissor” desta frase, representado por EM, estava irritado e esperava que o REceptor da frase pedisse desculpas.

           As frases nesta língua podem ser escritas com as palavras colocadas em qualquer ordem, já que cada palavra diz qual possição ela ocupa: “EuSU comi aOD maçãOD”. Não haveria perda de informação se disséssemos “maçãOD comi aOD EuSU”. Então, os símbolos que representam cada palavra poderiam ser grudados formando desenhos – um desenho para cada frase. De fato, as linhas que delimitam cada símbolo poderiam ser utilizadas para transmitir informações que não estão na frase. Por exemplo, em “Eu estou feliz” poderíamos desenhar “feliz” em forma de sorriso para baixo, querendo significar que não estamos felizes.

            Alguns símbolos não significam nada. Apenas são usados para tornar mais bonitas as frases desenhadas como descrito no parágrafo acima.

            Apesar das palavras de uma frase poderem ser colocadas em qualquer ordem, normalmente elas deverão ser colocadas em uma ordem que adicione informação à frase. Assim, se alguém nos acusa de ter comido uma maçã, diríamos “não eu comi a maçã”,  com “não” em primeiro lugar, enfatizando a negação do fato e, em segundo lugar, “eu”. Se uma mãe pergunta ao filho se ele comeu o abacate, com a intenção e mantê-lo nutrido, o filho deveria responder “Comi eu o abacate”. Colocando “comi” em primeiro lugar enfatizamos o fato de que o “comer” era mais importante. Seria uma indelicadeza dizer “eu comi o abacate”, o que colocaria “eu”em primeiro lugar.

 

            Em linguas ocidentais, a leitura é feita da esquerda para a direita, de cima para baixo. Em Andrômedra, a leitura é normalmente feita na ordem crescente dos números abaixo.

     1   2   3   4

     12  13  14  5

     11  16  15  6

     10  9    8  7

        

A leitura é feita em caracol. Para tirar a monotonia da ordem fixa de leitura, Andrômedra possui símbolos cuja única finalidade é dizer em que ordem um parágrafo deve ser lido. Um destes símbolos pode ser colocado no canto superior esquerdo do parágrafo. Assim, há símbolos para leitura como em Português ou Chinês (de cima para baixo, direita para a esquerda, se não me engano). Ou em uma ordem qualquer:

     1   8   13  16

     5   2   9   14

     11  6   3   10

     15  12  7   4

 

7.     Conclusão

 

            Observem que Andrômedra deixa as línguas convencionais a anos-luz de distância quando o assunto é precisão. Quando esta língua for amplamente usada, as pessoas acharão inacreditável que no passado a palavra “nós” não fornecia sequer a informação do número de elementos a que se referia. Um absurdo.